A primeira noção de consciência de que se deu conta, foi que
respirava: entrava um ar que enchia-lhe, e dava existência a cada tragada.
E que havia uma presença macia que às vezes fazia peso sobre este arfar de
sôfrego.
Noções de espaço, e contorno, sensações que se expandiam prá
lá desses além, pois porque leis e limites servem para serem superados.
(Nietszche)
Outros sentidos: o chão seco e frio escuro contra outra
extremidade lúcida morna, e úmida.
Só porque a figura que se representava de uma maneira
plástica e vulgar, ilusionistas e artificiais cores de tintas quimicamente
falsas dando a impressão inverdadeira de realidade, pinceladas caprichosamente,
era uma representação de a rigor diga-se – mentira de luz – de um ser
luciferinamente branco acariciando uma cabra que, sucumbida na friagem que lhe
corroera os ossos, fora salva a tempo, pelo calor de um viajante na estrada.
Sentia um convite ternamente suave, para que eu
retornasse à vida quente, que pressenti existir fora, quando percebi que
caminhei atento somente ao frio que preguiçosamente bocejava e puxava para
dentro de mim.
Antes de me sentir eu sentia que era um rato covarde e
ladrão, pelos eriçados e espetantes, e precisei olhar muito tempo para mim
assim, até de tanto olhar, esquecesse essa forma que agora não condiz com a
expansão do ser em noção à luz.
Antes ficava ao vento: ele me dizia dos temores dos quais
deveria fugir, e quantas vezes busquei a força de suas correntes, para caminhar
um pouco mais longe. Ao levantar, e esperando as forças voltarem, ainda me
convidas a olhar a paisagem que magnificamente se expõe feito orquídea, no
lugar da engendrada queda, vento caprichoso onde às vezes caio, grudada no
tronco do Jacarandá-da-bahia.
A importância que deste ao meu couro ressecado foi a única
certeza no mundo que pode trazer um ser à vida, puxado de lá de dentro.
Francisco Vieira
16/03/13