Sou descrente, falei, enquanto ela, no seu sorriso, inundava de luz. E tem mais: sou um embuste, enquanto ela, sorrindo, coloria o dia, como quem enchia a tela de aquarela. Minhas pétalas são apenas folhas modificadas, e não têm cor, apenas respondem ao seu estímulo (sorria, mas não era uma continuação: um sorriso dentro do outro, como ondas) de maneira que a todos encanto com uma mentia cheirosa, adocicada. Então seu sorriso morreu fundo no meu cálice. Aceito, desabrochei tranquilo, esférico.
Sou solúvel, é meu destino, dissolver-me nas crenças do menino. Não espero nem desespero, desesperar é esperar.
Antes porém do contato dissolvente, eu já desaprovava o desgosto da dissolução, confundido no meio líquido da dor, liquefeito, desparticularizado, neutro. Estado confuso, homogêneo, então simples, na vida comum dos meios fios, meios solventes. Detergente. Água com óleo digerido. Assim brindo sem entusiasmo minha taça, volvo à sacada e, retido pela murada, derramo o conteúdo borbulhante na calçada.
Desacelerei o passo (sim, sem me preocupar com a energia que foi necessária para dar tal velocidade à marcha, na verdade despendendo mais energia ainda) você atrás de mim (como pudemos deixar de notar meu passo sempre à frente de nós) e a porta já fechada quando eu chegara (nenhuma pressa, nenhuma que advenha de tal motivo: eu não querer estar do seu lado) choverá hoje?