
Olhar-te através de um espelho, porque não posso
encarar-te frente a frente, eu que nunca me tenho visto.
Eu não existo pelas arestas – a par, de todo o mar,
que é possível se imaginar existir pelas frestas,
e meus símbolos pessoais são inescritos.
No meu reflexo que há pouco estou aprendendo usar,
na minha personificação plástica corpóreo-consciente,
eu ainda não me acostumei comigo, desde que me foi dado
ser olhado longamente.
Por que olhas, em fim, para mim, que a muito custo posso suportar
tanta benevolência, tanta certidão de mim mesmo
como ser bom, digno desse teu olhar intercursado,
cheio de afeto primitivo, de acolhimento, de paixão!
O vício é o eterno reflexo daquilo que nunca foi visto.
Francisco Vieira
06/02/11
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