Foi outro dia, estava lá, quieto, quando lembrei que, quando era criança, eu sempre olhava muito tempo para as coisas simples da vida... que subia na árvore e sentava nos seus galhos e olhava as formigas passarem, ou senti-las me morder. Que olhava longe, achando que aquele mundo era tão enorme – ali a “avenidona” que a gente pega quando vem da minha avó, e tinha tudo aquilo mais! Às vezes a noite caía, então me encolhia um pouco naqueles galhos queridos, generosos, protegido que estava de olhar a noite assim, no alto, na cara dela. Descia com fome, e comia: não precisava de mais nada. O tempo não contava para mim, não o sentia. Só eu era para mim. Só a minha companhia. Nada me cobrava, nem culpava, ingênuo, puro.
Então, me convidei a ver o sol se pôr, o dia sumir, a noite chegar. Então cheguei, sentei-me no chão, no quintal, no caminho das formigas. Eu trouxe bolinhos de chuva, com banana dentro, passados no açúcar com canela, recém saídos da frigideira. E eu estávamos tão felizes, que respirávamos profundamente. E comecei a ver as pequenas coisas, as despercebidas... olhei as rachaduras nos meus muros, os defeitos do piso no chão do meu quintal... as folhas rasgadas das palmeiras, sujas, outras secas... o céu nublado, cheio de imperfeições e saliências de nuvens cinzentas... meu corpo envelhecido, seco de quando em quando, a idade que não tinha última vez que aqui estive.
Eu estava bem... nada enfim precisava ser consertado, tudo é um ledo engano meu, conspiração minha - medo afinal. Eu me levanto e sigo. Eu fico, deitado, sobre o chão.
Francisco Vieira
16/03/2010
2 comentários:
Quando eu era mais novo, idade escolar, subia pra cima do telhado da cozinha pra ler os livros de 'capa preta'. Aproveitava pra admirar também a rua, os carros, os muros da vizinhança. Foi bom me lembrar disso. Obrigadinho.
Nos meus tempos de criança, a parentela costumava se reunir em casa pra fazer pamonha, vinham os parentes do garimpo, começavam a fazer desde manhãzinha e terminavam à noite com aquele monte de pamonha fervendo no taxo. Era tanta que durava mais de semana. E eu amava tanto tudo isso que deixava de almoçar ou jantar, só pra comer mais pamonha com gosto de família reunida.
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