sábado, 16 de agosto de 2008

Suffer Well

Where were you when I fell from grace
Frozen heart, an empty space
Something's changing, it's in your eyes
Please don't speak, you'll only lie
I found treasure not where I thought
Peace of mind can't be bought
Still I believe

I just hang on
Suffer well
Sometimes it's hard
It's hard to tell

An angel led me when I was blind
I said take me back, I've changed my mind
Now I believe
From the blackest room, I was torn
He called my name, a love was born
So I believe

I just hang on
Suffer well
Sometimes it's hard
It's hard to tell

I just hang on
Suffer well
Sometimes it's hard
So hard to tell

Dave Gahan

domingo, 3 de agosto de 2008

Estudo

Eu não sou eu nem o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
(Mário de Sá Carneiro)


Eu não sou eu. Verdade. Sou um produto do que querem aqueles que eu seja. Não existe maneira, jeito ou espaço pra eu ser quem eu seja: nesse lugar, onde eu não fosse quem eu sou, ou seja, quem eu não sou, eu não existo.
Onde existo então? Porque não sou o outro, não posso sê-lo, senão numa forma tosca, coxa... longe do resultado que de mim esperavam que eu fosse: o que não sou, nem virei a sê-lo...
De qualquer forma, quem sou? Não posso ser aquele que querem que eu seja, especialmente a mãe, nem aquele que eu sou... com uma diferença: aquele que eu tento ser é, de qualquer forma, melhor aceito do que aqueloutro que jamais me dediquei a ser: o eu que eu não sou.
Onde eu existo então? Naquele que eu não pratiquei ser, naquele que eu tentei ser?
Minha própria imagem refletida me assusta, sem medo - me surpreende. Meu eu, não sei qual deles, é ainda tão despregado da imagem que reflito, que essa imagem parece até um insulto. Um insulto ao outro que me solicita, esse outro que é o terceiro dentro de mim, a terceira margem - um eu amargo, rancoroso, amorfo, que não entendeu como, de que forma deveria ser para atender os Outros. Um insulto à criação, porque manipulado, manietado, manuseado... Um insulto a mim, que se reflete num insulto a esse Outro que me solicita ser assim - solicita aliás com uma delicadeza, com uma permanente suavidade, como numa canção, como numa dança, como num ato de carinho onde mãos exteriores agarram meu pescoço, numa constante e velada ameaça assassina...
Onde não existo? Nesse deserto de solidão e inverdade, onde o vento muda de lugar a areia e a minha existência?
Penso exatamente numa ponte. Uno precariamente dois continentes distintos: "O Não Sou" e "O Seria", mas onde eu não me acho nesse lado nem do outro. Ou melhor, sou o frágil pilar dessa ponte precária que liga o que eu não sou ao que eu nunca virei a ser. E dessa forma eu perco mesmo a liberdade da incontinência solta e largada no deserto onde eu me perdia: eu estou preso num lugar que não existe sustentando uma ligação impossível entre dois polos. Eu não sou eu.

Francisco José
03/08/2008