terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Origem






Às vezes, meu pensamento flui com a velocidade de uma Desdêmona
entre intrincados caminhos, entre labirintos úmidos e febris,
parafraseando cada frase que escuto, cada música que ouço,
dançando qual bola ciclista nos túneis do tempo, arredondados...

nada me veste, a não ser o resultado da simples equação euXtu
deixando-me assim, nu, perante os varais ascensionados da imensidão,
onde eu percorro com todo prazer o meu próprio caminho,
que há de se encontrar com o teu, mais à frente...

mas foi porque não coubesse mais no teu colo interno, de sangue e cal,
que me expulsastes, já respirando e desejando tuas tetas,
que me davam resultado a uma ânsia que eu não sequer conhecia,
o teu leite foi o meu cúmplice no desenvolvimento de mim mesmo.

Doce terra firme tórrido torrão de solo a sustentar meus passos cegos
na hesitante, frágil, de carne existência do meu eu fora do teu corpo,
os teus braços construíram-me consciência da minha espinha dorsal,
que haverá de me sustentar durante toda a vida extra uterina.

Mas é tão bom voltar a tua casa, já no entardecer, sol laranja,
onde, me esperando, a tua benévola maternagem sobre a mesa disposta,
o colo aberto, sorriso acolhedor, e o amor de que te mamo, dos olhos,
quando então dizes, num fim de suspiro: “meu filho!”


Francisco Vieira
01/02/11

Imagem disponível em 01/02/2011 em http://tinyurl.com/4bbx7dq