segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Nos degraus mais fundos






Eu já andei no escuro, absoluto escuro,
que apenas podia ser cortado toscamente,
por uma chama desiludida no meio do, absoluto,
escuro da luz das estrelas cinza chumbo...

era quando a noite realmente entrava em nós,
e brincávamos de esconder pelos vãos de luz,
que nos possuía e então éramos comuns a toda treva,
que se fluía dentro de nós e ia embora,
sempre que a escuridão abrisse de novo os nossos corpos...

sinto falta de outra escuridão que ficasse e não esta que está,
que não se muda, não vai embora, que insiste em ficar
a despeito da minha vontade... preciso dessa escuridão,
onde eu possa aí me desnudar, me entregar!

Francisco Vieira
24/01/11

Galeria




Hoje eu quero a rosa mais branca que houver,
quero colhê-la nas primeiras horas da manhã,
ainda entre-aberta, quero essa vibração dela
que está se dando à luz e ao calor,
quero essa sensação.
Vou buscar no riacho próximo, no ponto
onde a água é mais pura,
encher minha jarra de barro,
com o cuidado de quem toca no sagrado.
Quero assear meu corpo, limpá-lo,
purificando ao máximo, unhas e cabelos aparados,
perfumar-me de mangericão, alecrim, e colônia,
então vestir roupas leves de algodão, branquíssimas.
Para ajoelhar-me descalço frente ao Ibá, com a alegria e satisfação
de quem se paramentou para estar na presença do Rei de Ejigbô,
tendo atravessado todo o deserto por horas,
sem trazer nenhum grão de areia, nenhuma gota de suor,
mas dourados os cabelos, rosa branca na mão,
para falar da minha tão enorme gratidão...

Francisco Vieira
24/01/11