quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Mãe das Águas





Agora eu ao lado dessa água que corre,
trazendo em si os nutrientes que me alimentam de alma,
que recolho com a peneira fina
que faz par ao diadema que me segura os cabelos fartos.

Libélula chega, e brinca, na luz do sol, refratando-a com as asas,
pedindo humildemente para ser vista e abençoada,
e por detrás os verdes lúcidos da floresta caudalosa,
absorvo a visão e a existência de cada ser que encontro, todos,
e me recolho ao peito nu, exausta, ofegante, fremente, de tanto amor.

Um camarãozinho me belisca o pé, tropeiro, feliz, oferecendo-me a visão
de pequenos seres subaquáticos e fascinados, perante a luz que por reflexo
escorre pelas madeixas por ela mesma clareadas, faiscando,
enquanto eu os fito a todos com amor.

Um beija flor vem brincar na flor que adorna meus cabelos sedosos,
serelepe, sorridente, estridente,
agradecendo-me num sussurro, as bênçãos que todos ali,
já satisfeitos, vieram buscar, e obtiveram.

É porque o amor que eu tenho por todos vós, meus queridos,
quanto mais dele eu vos dou, mais dele ocupa novamente esse lugar,
aqui na altura do meu peito, onde madeixas
guardam o recato, publicamente, descendo à cintura,
descendo até os membros inferiores, que pode ser de peixe.

Assim recomposta me encosto na pedra próxima,
olhando os insetos voejando brincalhosamente
pela atmosfera úmida do ar das cacheoiras,
inspiro o amor que absorvo de tudo aquilo,
expirando gratidão, absorta na contemplação
de tanta vida borbulhante e iluminada!




Francisco Vieira
05/01/11