terça-feira, 2 de novembro de 2010

Parnaso



Como é mesmo que você vem me dizendo quem eu sou?

Não dê você as desculpas que o outro quer ouvir
mas que não são as suas exatamente
pois estará dizendo algo de você mesmo ao outro
que vai se afastando de você próprio
levado, mão nas costas, pelas suas falsas máscaras.

Lamente, um pouco a cada minuto, pelo menos,
o fato enlouquecedor de ser uma neurose controlada
-durante poucos anos-
e depois viva o resto da sua vida comemorando o fato
de não precisar vivê-la.

Ame, durante anos, décadas, e desame, num segundo,
sem a dificuldade de ter de carregar nos ombros
a compaixão desesperada de não desagradar o outro.

Eu digo quem você é porque eu penetro no verdadeiro
espírito errante das palavras, criando a partir dele, enquanto escrevo,
situações teatralizadas pelos elementos dramáticos, plásticas,
onde cada criatura verá, dependendo do ãngulo,
da altura, do lugar, o próprio reflexo de si mesmo
e que mesmo eu jamais poderia ver.


Mas ainda assim,
você não saberá dizer quem você é.

Francisco José
02/11/2010