sábado, 16 de março de 2013

Ctrl-V




 

A primeira noção de consciência de que se deu conta, foi que respirava: entrava um ar que enchia-lhe, e dava existência a cada tragada. E que havia uma presença macia que às vezes fazia peso sobre este arfar de sôfrego.
Noções de espaço, e contorno, sensações que se expandiam prá lá desses além, pois porque leis e limites servem para serem superados. (Nietszche)
Outros sentidos: o chão seco e frio escuro contra outra extremidade lúcida morna, e úmida.
Só porque a figura que se representava de uma maneira plástica e vulgar, ilusionistas e artificiais cores de tintas quimicamente falsas dando a impressão inverdadeira de realidade, pinceladas caprichosamente, era uma representação de a rigor diga-se – mentira de luz – de um ser luciferinamente branco acariciando uma cabra que, sucumbida na friagem que lhe corroera os ossos, fora salva a tempo, pelo calor de um viajante na estrada.
Sentia um convite ternamente suave, para que eu retornasse à vida quente, que pressenti existir fora, quando percebi que caminhei atento somente ao frio que preguiçosamente bocejava e puxava para dentro de mim.
Antes de me sentir eu sentia que era um rato covarde e ladrão, pelos eriçados e espetantes, e precisei olhar muito tempo para mim assim, até de tanto olhar, esquecesse essa forma que agora não condiz com a expansão do ser em noção à luz.
Antes ficava ao vento: ele me dizia dos temores dos quais deveria fugir, e quantas vezes busquei a força de suas correntes, para caminhar um pouco mais longe. Ao levantar, e esperando as forças voltarem, ainda me convidas a olhar a paisagem que magnificamente se expõe feito orquídea, no lugar da engendrada queda, vento caprichoso onde às vezes caio, grudada no tronco do Jacarandá-da-bahia.
A importância que deste ao meu couro ressecado foi a única certeza no mundo que pode trazer um ser à vida, puxado de lá de dentro.
 
Francisco Vieira
16/03/13