sábado, 21 de agosto de 2010

Mors-Amor

“Para quem quer se soltar,
invento o cais...”
Milton Nascimento



Na película que me separa da confusão total do exterior,
que protege minha pequena organização conjunta,
identifico uma possível margem onde um saveiro espera,
do lado de fora, na paisagem ocre dissociada.

Um suspiro sobe inconsequente e autômato até minha garganta,
que projeta-o fora do meu corpo, escapando para a escuridão,
revoltando este interior inflado, que quer sair, quer nascer
- um grito apavorado se me escapa, reverberando tudo a sua passagem.

Ainda sob o efeito desse estrépito quente e vibrante,
recolho-me todo da periferia no sentido de conter-me no mais interior da gema
de acalmar esse ambiente agora perturbado, cheio de ondas,
que não se aquieta, que mais se revolta, que se rompe na minha explosão:

No meu próximo momento de possível percepção, possível consciência,
A paisagem ocre originou a noite azul marinho, dissolvida na clara, onde desliza minha embarcação,
não sei quem sou e onde estão meus novos limites, não sei para onde vou,
inclusive não sei mais o que é caos, o que é constituição.
Não me governo mais, parado, calado, e o movimento é inerente a minha vontade.



Francisco Vieira
19/08/2010

Explicação

O poema não nasce na forma
por isso o poema não tem forma
não tem fôrma,
não tem nada!

Francisco Vieira
20/08/2010