quarta-feira, 22 de maio de 2013

Diário de Bordo 22/05/2013 PNLS 045676



 Cap. 01
 A) Lista de atividades -
 Sentar e conversar com meus demônios.
 Eles são as minhas únicas companhias eternas.
 Imiscuem-se por entre as fímbrias do meu destino,
 presos a mim, que os alimento com atenção exarcebada.
 Conhecê-los, olhar suas fácies horrendas, deixá-los fitar
 nitidamente seu olhar perscrutador nos meus olhos,
 para que deixem de ser mito.
 Soltá-los feito balões no horizonte de uma tarde
 que promete descanso e afeto.
 Eles que mordiscam constantemente
 meus calcanhares tão roídos.

05:45

Imagem disponível em http://lenfanterriblelx.blogspot.com.br/2012/04/teia.html em 22/05/2013.

Pesadelo




  Josef K. foi enfim levado da saleta onde estivera trancado por horas, e embora estivesse na urgência da sede, não pediu água. Foi colocado entre pessoas queridas, e uma súbita alegria espandiu-lhe o peito, antes porém de perceber que eles o olhavam de forma metalicamente inquisidora. Num arrepio gelado, K. viu levantar-se alguém dentre eles de cuja presença ultimamente tem se esquivado, ...porque perigosa, e com olhos úmidos lançar queixa formal sobre a recusa de um benefício, e tal desistência, tomada como brutal ofensa, colocava o benfeitor numa posição de extrema miséria emocional, sugerindo por isso a execução do castigo máximo, com o que a assembléia concordava. Todos se levantaram, e Josef K. foi desamarrado da cadeira e conduzido à sala onde seriam aplicados os suplícios.

Francisco Vieira

20/05/2013

 


 

sábado, 16 de março de 2013

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A primeira noção de consciência de que se deu conta, foi que respirava: entrava um ar que enchia-lhe, e dava existência a cada tragada. E que havia uma presença macia que às vezes fazia peso sobre este arfar de sôfrego.
Noções de espaço, e contorno, sensações que se expandiam prá lá desses além, pois porque leis e limites servem para serem superados. (Nietszche)
Outros sentidos: o chão seco e frio escuro contra outra extremidade lúcida morna, e úmida.
Só porque a figura que se representava de uma maneira plástica e vulgar, ilusionistas e artificiais cores de tintas quimicamente falsas dando a impressão inverdadeira de realidade, pinceladas caprichosamente, era uma representação de a rigor diga-se – mentira de luz – de um ser luciferinamente branco acariciando uma cabra que, sucumbida na friagem que lhe corroera os ossos, fora salva a tempo, pelo calor de um viajante na estrada.
Sentia um convite ternamente suave, para que eu retornasse à vida quente, que pressenti existir fora, quando percebi que caminhei atento somente ao frio que preguiçosamente bocejava e puxava para dentro de mim.
Antes de me sentir eu sentia que era um rato covarde e ladrão, pelos eriçados e espetantes, e precisei olhar muito tempo para mim assim, até de tanto olhar, esquecesse essa forma que agora não condiz com a expansão do ser em noção à luz.
Antes ficava ao vento: ele me dizia dos temores dos quais deveria fugir, e quantas vezes busquei a força de suas correntes, para caminhar um pouco mais longe. Ao levantar, e esperando as forças voltarem, ainda me convidas a olhar a paisagem que magnificamente se expõe feito orquídea, no lugar da engendrada queda, vento caprichoso onde às vezes caio, grudada no tronco do Jacarandá-da-bahia.
A importância que deste ao meu couro ressecado foi a única certeza no mundo que pode trazer um ser à vida, puxado de lá de dentro.
 
Francisco Vieira
16/03/13