quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fala do mestre sobre a pedra






Enfim alguém pode dizer mesmo que
viu o outro feliz quando, o adulto de hoje,
enternecido, cheio de compaixão e amor,
acolhe a solidão daquela criança que ele foi,
dando a ela, finalmente, o lugar merecido
entre os braços seguros que a amam.


Francisco Vieira
23/02/11


Imagem disponível em http://tinyurl.com/6j8chce em 23/02/11

I’m the Passenger







Está acontecendo alguma coisa atrás de mim,
e eu sinto que posso ser atingido, a qualquer momento,
embora uma voz, muito grave, assertiva, afirme
que não.

Mas é que escuto risadas, que podem ser de mim,
do meu jeito de ter lidado com as coisas,
sentimentos guardados, e agora libertados,
porque se sentiram vencedores, na sua pobre
vigilância, recompensada, com a visão de um deslize,
embora a voz declare que não.

-mas aquela visão seria com a qual estamparia,
meu álbum nas tuas memórias,
e colocado na tua mais esquecida prateleira,
depois de outros retratos horrorosos,
e a voz me desmente mais uma vez.

Sim, eu sei, eu sigo adiante,
e nem o medo de que possa ficar, inclusive,
sem os vossos olhos que me desvêem,
porque eram os únicos que eu via até então,
e os quais declinara ver, antes nenhuns,
e fui em busca da minha cegueira definitiva.

Sim, eu respondo à voz, porque me deseja,
vamos, porque no fundo eu sei,
pois essa voz, muito grave, assertiva, afirma,
- isso é um desejo secreto e guardado –
nada disso pode estar acontecendo,
naquilo que ficou para trás de mim,
um personagem que não mais cabia em mim.

E a voz diz ainda que a imagem da fotografia
foi um requinte de perspicácia
- como não concordar?



Francisco Vieira
23/02/11


Imagem disponível em http://tinyurl.com/6ys66xl em 23/02/11