sábado, 3 de abril de 2010

Carta a uma amiga companheira de viagens natalinas

Eu não gostaria de que te afugentasse o parentesco que carrego no sangue,
De carregar esse estigma e sofrer a tua ausência, o ólvido, a sua quase desamizade...
A vida foi injusta ao colocar as coisas assim, me dá com uma mão, me tira com a outra
Uma amizade que só não é mais sólida porque capenga aqui, coxeia, tropeça, engasga...

Mas o meu compromisso é com as águas verdes que se agitam desde o horizonte,
Com as brisas que sopram desde longe essas mesmas águas, com o sol que se vai,
Com as gaivotas que se despedem, e se riem, e se soltam eu aqui na praia sentado,
A liberdade da maresia se desprendendo, o gosto de sal no ar, com o que se cala no meu peito.

Assim, nada exijo de você... ao contrário, aceito a superficialidade dos nossos desencontros,
e quiçá vibro quando acontecer de, numa dessas evoluções, calharmos de nos reencontrar
nas nossas profundidades, das nossas alegrias, das despretensões largadas nossos braços, pernas,
pois a minha felicidade não depende da sua presença, mas a enfeita, de um jeito tão mimoso...

Perdoe-me o conteúdo um pouco amargo dessa carta, fruto de uma tristeza um tanto revoltada...
Perdoe-me as conclusões antecipadas, mas preciso de chão, e você não me deixou explicações...
De nada reclamo ainda, nem das desculpas que você cala, nem das suas ausências, nem de nada,
Apenas expresso a dor que está lá por eu não ter sido escolhido, mesmo sabendo que ninguém foi.

Eu estou renascendo nesse sábado de Aleluia... renasci com essa verdade ereta, visível, gritando.
Talvez nossas estradas se afastem mais, os interesses sejam mais diferentes, e nos percamos de vez...
Talvez tenha que ser assim. E vou respeitar sua retirada, seus motivos, os que não sei inclusive...
Não sem tristeza, mas com respeito, com reverência, com afeto, estou arrumando minha gaveta.

Francisco José
03/04/2010