segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Morte

Eu. Só eu

Francisco Vieira
23/10/08

Solidão

Você está se enxugando tanto!
Menos mar te reconheço.

Francisco Vieira
23/10/08

Oitava

Quanto mais sozinho você me deixa
Mais longe eu me deixo
Mais longe você fica.

Francisco Vieira
22/10/08

Prosódia

Eu:
NÃO TENHO PAI
NÃO TENHO MÃE
NÃO TENHO AMOR
NÃO TENHO TUDO


Francisco Vieira
22/10/08

TORÇÃO

Como que quando sua voz passa
me deixa sem nada
me leva tudo
quando você diz

Como que a sua voz me leva tudo
Como que sua voz me deixa
sem nada
quando você não diz

Francisco Vieira
22/10/08

sábado, 16 de agosto de 2008

Suffer Well

Where were you when I fell from grace
Frozen heart, an empty space
Something's changing, it's in your eyes
Please don't speak, you'll only lie
I found treasure not where I thought
Peace of mind can't be bought
Still I believe

I just hang on
Suffer well
Sometimes it's hard
It's hard to tell

An angel led me when I was blind
I said take me back, I've changed my mind
Now I believe
From the blackest room, I was torn
He called my name, a love was born
So I believe

I just hang on
Suffer well
Sometimes it's hard
It's hard to tell

I just hang on
Suffer well
Sometimes it's hard
So hard to tell

Dave Gahan

domingo, 3 de agosto de 2008

Estudo

Eu não sou eu nem o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
(Mário de Sá Carneiro)


Eu não sou eu. Verdade. Sou um produto do que querem aqueles que eu seja. Não existe maneira, jeito ou espaço pra eu ser quem eu seja: nesse lugar, onde eu não fosse quem eu sou, ou seja, quem eu não sou, eu não existo.
Onde existo então? Porque não sou o outro, não posso sê-lo, senão numa forma tosca, coxa... longe do resultado que de mim esperavam que eu fosse: o que não sou, nem virei a sê-lo...
De qualquer forma, quem sou? Não posso ser aquele que querem que eu seja, especialmente a mãe, nem aquele que eu sou... com uma diferença: aquele que eu tento ser é, de qualquer forma, melhor aceito do que aqueloutro que jamais me dediquei a ser: o eu que eu não sou.
Onde eu existo então? Naquele que eu não pratiquei ser, naquele que eu tentei ser?
Minha própria imagem refletida me assusta, sem medo - me surpreende. Meu eu, não sei qual deles, é ainda tão despregado da imagem que reflito, que essa imagem parece até um insulto. Um insulto ao outro que me solicita, esse outro que é o terceiro dentro de mim, a terceira margem - um eu amargo, rancoroso, amorfo, que não entendeu como, de que forma deveria ser para atender os Outros. Um insulto à criação, porque manipulado, manietado, manuseado... Um insulto a mim, que se reflete num insulto a esse Outro que me solicita ser assim - solicita aliás com uma delicadeza, com uma permanente suavidade, como numa canção, como numa dança, como num ato de carinho onde mãos exteriores agarram meu pescoço, numa constante e velada ameaça assassina...
Onde não existo? Nesse deserto de solidão e inverdade, onde o vento muda de lugar a areia e a minha existência?
Penso exatamente numa ponte. Uno precariamente dois continentes distintos: "O Não Sou" e "O Seria", mas onde eu não me acho nesse lado nem do outro. Ou melhor, sou o frágil pilar dessa ponte precária que liga o que eu não sou ao que eu nunca virei a ser. E dessa forma eu perco mesmo a liberdade da incontinência solta e largada no deserto onde eu me perdia: eu estou preso num lugar que não existe sustentando uma ligação impossível entre dois polos. Eu não sou eu.

Francisco José
03/08/2008

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Fala ao Coração

Meu Coração, não batas, pára!
Meu coração, vai-te deitar!
A nossa dor, bem sei, é amara,
A nossa dor, bem sei, é amara...
Meu coração, vamos sonhar...
Ao mundo vim, mas enganado.
Sinto-me farto de viver:
Vi o que elle era, estou massado,
Vi o que elle era, estou massado...
Não batas mais! vamos morrer...
Bati à porta da Ventura
Ninguém ma abriu, bati em vão:
Vamos a ver se a sepultura,
Vamos a ver se a sepultura
Nos faz o mesmo, coração!
Adeus, Planeta! adeus, ó Lama!
Que a ambos nós vais digerir...
Meu coração, a Velha chama,
Meu coração, a Velha chama...
Basta, por Deus! vamos dormir...

António Nobre
Coimbra, 1888.

Os Cativos


Encostados às grades da prisão,
Olham o céu os pálidos cativos.
Já com raios oblíquos, fugitivos,
Despede o sol um último clarão.

Entre sombras, ao longe, vagamente,
Morrem as vozes na extensão saudosa.
Cai do espaço, pesada, silenciosa,
A tristeza das cousas, lentamente.
E os cativos suspiram. Bando de aves
Passam velozes, passam apressados,
Como absortos em íntimos cuidados,
Como absortos em pensamentos graves.

E dizem os cativos: Na amplidão
Jamais se extingue a eterna claridade...
A ave tem o vôo e a liberdade...
O homem tem os muros da prisão!

Aonde ides? qual é vossa jornada?
À luz? à aurora? à imensidade? aonde?
- Porém o bando passa e mal responde:
À noite, à escuridão, ao abismo, ao nada! -

E os cativos suspiram. Surge o vento,
Surge e perpassa esquivo e inquieto,
Como quem traz algum pesar secreto,
Como quem sofre e cala algum tormento...

E dizem os cativos: Que tristezas,
Que segredos antigos, que desditas,
Caminheiro de estradas infinitas,
Te levam a gemer pelas devesas?

Tu que procuras? que visão sagrada
Te acena da soidão onde se esconde?
- Porém o vento passa e só responde:
a noite, a escuridão, o abismo, o nada! -

e os cativos suspiram novamente.
Como antigos pesares mal extintos,
Como vagos desejos indistintos,
Surgem do escuro os astros, lentamente...

E fitam-se, em silêncio indecifrável,
Contemplam-se de longe, misteriosos,
Como quem tem segredos dolorosos,
Como quem ama e vive inconsolável...

E dizem os cativos: Que problemas
Eternos, primitivos vos atraem?
Que luz fitais no centro d’onde saem
A flux, em jorro, as intuições supremas?

Por que esperais? n’essa amplidão sagrada
Que soluções esplêndidas se escondem?
- Porém os astros tristes só respondem:
a noite, a escuridão, o abismo, o nada! -

assim a noite passa. Rumorosos
sussurram os pinhais meditativos.
Encostados às grades, os cativos
Olham o céu e choram silenciosos.


Antero de Quental

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Hyenas

Jadis, si je me souviens bien, ma vie était un festin où s'ouvraient tous les coeurs, où tous les vins coulaient.
Un soir, j'ai assis la Beauté sur mes genoux. - Et je l'ai trouvée amère. - Et je l'ai injuriée.
Je me suis armé contre la justice.
Je me suis enfui. Ô sorcières, ô misère, ô haine, c'est à vous que mon trésor a été confié!
Je parvins à faire s'évanouir dans mon esprit toute l'espérance humaine. Sur toute joie pour l'étrangler j'ai fait le bond sourd de la bête féroce.
J'ai appelé les bourreaux pour, en périssant, mordre la crosse de leurs fusils. J'ai appelé les fléaux, pour m'étouffer avec le sable, avec le sang.
Le malheur a été mon dieu. Je me suis allongé dans la boue. Je me suis séché à l'air du crime. Et j'ai joué de bons tours à la folie.
Et le printemps m'a apporté l'affreux rire de l'idiot.
Or, tout dernièrement, m'étant trouvé sur le point de faire le dernier couac! j'ai songé à rechercher le clef du festin ancien, où je reprendrais peut-être appétit.
La charité est cette clef. - Cette inspiration prouve que j'ai rêvé!
"Tu resteras hyène, etc.... ," se récrie le démon qui me couronna de si aimables pavots.
"Gagne la mort avec tous tes appétits, et ton égoïsme et tous les péchés capitaux."
Ah! j'en ai trop pris: - Mais, cher Satan, je vous en conjure, une prunelle moins irritée! et en attendant les quelques petites lâchetés en retard, vous qui aimez dans l'écrivain l'absence des facultés descriptives ou instructives, je vous détache des quelques hideux feuillets de mon carnet de damné.



MoBy

domingo, 4 de maio de 2008

Espólio

De mim não tenho nada

- nem pra mim...

A poça que deixo no chão

São lágrimas espúrias, desprezíveis

- eu em si sou todo desprezível,

Quanto mais aquilo que de mim produzo...

Não tenho mãe que me ame...

Nem pai que me acompanhe...

Que nem se interessa pelos meus dias

Que são assim, espúrios

-como tudo que produzo...

Inclusive o vômito daquilo que não como

Daquilo que eu não tenho

-não amigos, nem bem que me trate,

Sem amor, sem ódio, sem reclames,

Sem nada que seja digno de um ser ter...

Pra que sou então?

Réptil miserável, odioso torto e deformado

Sem pai que se me preocupe

Sem mãe que me reconheça

Sem amor, sem amor...

Sem nada do mundo...

Francisco José

04/05/69

(véspera de meu aniversário)

domingo, 20 de janeiro de 2008

Paint a vulgar picture

At the record company meeting
On their hands - a dead star
And oh, the plans they weave
And oh, the sickening greed

At the record company party
On their hands - a dead star
The sycophantic slags all say :
"I knew him first, and I knew him well"

Re-issue ! Re-package ! Re-package !
Re-evaluate the songs
Double-pack with a photograph
Extra Track (and a tacky badge)

A-list, playlist
"Please them , please them !"
"Please them !"
(sadly, THIS was your life)
But you could have said no
If you'd wanted to
You could have said no
If you'd wanted to

BPI, MTV, BBC
"Please them ! Please them !"
(sadly this was your life)
But you could have said no
If you'd wanted to
You could have walked away
...Couldn't you ?

I touched you at the soundcheck
You had no real way of knowing
In my heart I begged "Take me with you ...
I don't care where you're going..."

But to you I was faceless
I was fawning, I was boring
Just a child from those ugly new houses
Who could never begin to know
Who could never really know
Oh ...


Best of ! Most of !
Satiate the need
Slip them into different sleeves !
Buy both, and feel deceived
Climber - new entry, re-entry
World tour ! ("media whore")
"Please the Press in Belgium !"
(THIS was your life...)
And when it fails to recoup ?
Well, maybe :
You just haven't earned it yet, baby

I walked a pace behind you at the soundcheck
You're just the same as I am
What makes most people feel happy
Leads us headlong into harm

So, in my bedroom in those 'ugly new houses'
I danced my legs down to the knees
But me and my 'true love'
Will never meet again ...

At the record company meeting
On their hands - at last ! - a dead star !
But they can never taint you in my eyes
No, they can never touch you now
No, they cannot hurt you, my darling
They cannot touch you now
But me and my 'true love'
Will never meet again

The Smiths

Asinim

Já me acostumei com essa coisa de você dormir de dia e pensar de noite... tentei fazer a mesma coisa pra acompanhá-lo, e até nos encontramos em alguns pensamentos seus - pensamentos lácteos, transparentes, voláteis... ígneos... entre dosar normalidade e loucura, entre se achar e se perder - entre ser e não ser, a Natália preenche os espaços vazios. Aqui não há o que se perder, somos tão vazios quanto o vácuo que nos pariu, e sempre estaremos sós e só nele. Nem que durmamos juntos. Nem que façamos conchinha com nossos corpos, depois de um amor que não existiu, não se corporificou, não se estabeleceu - nem nos conhecemos ainda... no momento em que nos aproximamos é exatamente quando nos separamos. Atropele o Voight, este sim. Mate-o. Cumpra com a sua missão. Verdadeiramente, só existe prazer no assassinato, por isso mate um Voight por dia... encha assim seus dias de prazer... ridicularize a tristeza, traia a a loucura, use seu bisturi pra cortar... assim talvez possamos nos encontrar.

Francisco José
21/01/2008

Chuva

A chuva é nossas almas chorando juntas nesse céu de imensidões magníficas, onde não cabe este amor que teima arder meu peito... erro? engano? Sem guarda-chuva, perco-me nas ruas e avenidas, completamente só, buscando um lugar seco onde possa chorar - baixinho - sem perder-me no caudal desta chuva miúda, insistente - debaixo dela, assim, não consigo esgotar as lágrimas desta tristeza imensa- será ela maior que nosso amor? Sim mudamos... mas a chuva não... o vento sopra minhas lágrimas e eu perdida tentando encontrar um lugar seco, aconchegante, morno, suave... Mestrado... tudo isso uma mescla de mistura de desculpas pra sair de perto de ti - não há possibilidade de vivermos sem nos consumirmos nesse amor... ele haverá de nos enlouquecer, de nos perder - e nos separar. Sei que os teus olhos pedem pra eu ficar, enquanto sua boca nos diz adeus... meus olhos em resposta quero te responda aos teus uma promessa de amor eterno... não tem jeito: o que nos resta é a fogueira... é esse amor...

Francisco José
21/01/2008