quarta-feira, 15 de junho de 2011

Luxo






Por que a ausência me termina num sopro de vela?
Que lágrima me escorre que não vejo aqui?
Onde o bálsamo me permite, seja eu o mais reparado?

Enquanto o sol houver de secar as cascas das sementes,
enquanto elas incham mais, fazendo-as explodirem,
se invadindo no espaço das futuras árvores,
ocupando seu lugar de direito, eu estarei muito bem.


Francisco Vieira
15/06/2011


Imagem disponível em http://tinyurl.com/3t5u3xo dia 15/06/2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Água Marinha






Eu tenho um luxo em mim
que se escorre feito mel,
pelos meus pelos nas pernas,
entre os dedos que é pregando no chão
que se anda impreciso sobre o doce.

É porque os contornos marinhos nas praias
de um vento soprado úmido, salgado,
no pôr do sol que se espreguiça
sentado e deitando nas areias e conchas,
são perfeitos e movimentados, como que brilhassem.

É igual à rocha, que escorre lisa, no maior prazer,
nas praias onde ousam colocar-lhes as pontas,
cuja vida é a festa da luz, do calor, da espuma, do frio,
e um beijo frequente e perene da brisa que se sopra...

Esse é o luxo que se encanta em mim nu,
na praia no sol num beijo de luz,
entre aquela excitação de sentidos
e o mais nada, nada do eu que pudesse prover.

É porque é um contorno de formas sutis,
daqueles morros do sol poente, azulando-marinho,
na areia onde aí somente eu posso me recolher,
- eu que estive exposto durante todo o dia de luz -
apenas nas radiações simpáticas do argênteo.



Francisco José
10/06/2011


Imagem disponível em http://tinyurl.com/6ezljqm em 10/06/2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Luz e Treva










“Ela é de Capricórnio, eu sou de Libra
eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
a mim me enerva o ardor com que ela vibra”

Vinícius de Moraes




Ficas aí agora, onde te vejo assim,
em contorno e cor e luz, e surpresa,
agora que te olho nos olhos.
Nunca passou-te pela cabeça que tens
pudesse eu um dia enxergar-te?
Esse ser fétido e cheio de feridas,
de boca medonha, onde nunca houvesse
outra expressão senão o deboche?
Enquanto tu estás assim tão visível,
eu estou aqui no mais prazer:
sentir o meu corpo é sentir dor também,
porém eu acredito mais na próxima alegria.

- Nauseabundo!

Eu?
Apenas pelo motivo intrínseco
de que estou no meu pleno habitat,
com a minha própria excitação,
aquela que invejas no mais profundo horror,
porque não dá conta da sua e de
nenhuma outra

- Vilipendioso!

Cala teu sorriso, ele é hostil!
Não vou comunicar-me no teu linguajar:
tu não comandas minhas maneiras de agir,
estás a um canto, em mim, separado,
e que enquanto ficar aí parado, serás
humilhado, desprezado, odiado,
a ti somente,
porque eu estarei simplesmente feliz.

- Meliante!

É que tu te alimentavas da minha felicidade,
exatamente no ponto onde ela surgia pura
e cristalina,
porque foras plantado tão cedo, parasita,
no mais profundo pelo do animal,
onde te insurgiste nas minhas construções,
nas minhas bases, donde extraías minhas alegrias,
mas onde não estás mais, percebe:
não, ainda não me livrei de ti, cala-te outro,
tenho essa certeza, querido demônio,
porque és pior que o Diabo que logo faz e diz,
e vocês se nascem na nossa construção, cupins,
mas agora te proporciono o devido expurgo:
fica aí!

E fenecerás!
Posto que quase nunca vou te proporcionar a visão
de nenhuma dor, posto que não mais estás em mim,
tu morrerás de fome, inseto,
eu não mais sofrerei pelo motivo agora pouco
de ser feliz e tranquilo.
Tu te alimentavas daquela minha
diarréia emotiva.





Francisco José
09/06/2011


Imagem disponível em http://tinyurl.com/3faroxf em 09/06/2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Luz






- Matar baratas, como bem poderia ter dito Clarisse,
é a maneira mais simples e mais completa
de se experienciar a própria essência erótica
do assassinato, numa sua completa mística.

Mas qual, devolveria a própria Clarice,
é que você não teve a sorte de viver
para ver a era, mágica, em que as comidinhas
são vendidas com uns veneninhos
que as matam em sua necessidade primária
- a de comer.

Talvez qual, respondesse ainda Mourice,
que tal morte perpetrada assim,
nas pedras gélidas das escadas das catedrais,
chega a ser santa, santificada,
porque feita com o intuito muito perverso
de assassinar aquilo que lhe era um mal,
e a todo resto do mundo,
podia ser usada essa arma: o poder
-não importava ela fosse um ser vivo.

Responderia ainda, aquele que nome não deve ter,
que as mortes, todas, deveriam ser sequestradas
dos seus algozes que as pregam como um fim:
é exatamente o começo de um não saber, infinito.


Francisco José
08/06/2011


Imagem disponível em http://tinyurl.com/4y256xc em 08/06/2011

domingo, 5 de junho de 2011

Tutankamon







Depois que a serpente esfriou o seu metal,
brotaram-lhe filhotes cíclopes que povoaram
seu arredores.

Coisa mais simples, brotar da casca, ávido,
descer da mesma, fincar num chão mais longe
sua bandeira,
e daquele chão fazer a sua morada,
e a dos seus, e dos seus.



Francisco José
05/06/2011

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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Desejo





Eu quero aquela poesia
escondida nos pavios das velas,
a que vem a tona na luz da chama,
e que sobe sumindo, na noite escura,
num fio de fumaça, que logo se expira.



Francisco Vieira
03/06/11


Imagem disponível em http://tinyurl.com/3usyfdk 03/06/11

quinta-feira, 2 de junho de 2011

As Rosas Não Falam








Estou voando profundamente
pelas imensidões abismais do desconhecido,
porque estas viagens me proporcionam conhecimentos.
A visão de particularidades, antes impossíveis de se imaginar,
me absolve de toda ignorância, naquele exato momento,
mas somente dentro dele,
porque o conhecimento é uma faísca
da qual guardamos apenas
uma opaca lembrança.



Francisco Vieira
02/06/11


Imagem disponível em http://tinyurl.com/3jvms43 02/06/11

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Samba de Viola




Mexer com palavras é preciso ser mágico:
tanto no cumprimento, quanto na largura,
resultando numa equação perfeita.
Isso tudo senão em meio de uma sinfonia exubélica
que tocasse Strauss, e Stravinsky,
entrecortados e simultaneamente
à aquarela de Ary Barroso.
Potenciamente enlouquecidos,
como o Universo, seus pedaços de buracos negros,
a engolir a realidade.
Felizes os ouvidos que os escutassem, um a um.

Tan tan tan tan!




Francisco Vieira
01/06/11