domingo, 10 de abril de 2011

Anis








Se houvesse uma superfície sensível ao movimento, e que desse espaço de papel limpo à minha letra, assim que ela se escrevesse, que pudesse perceber as oscilações na minha velocidade, e respeitasse esse tempo, parando, seguindo, a minha caligrafia seria perfeita na escrita dessa carta de amor. Porque o sentido que imprimo na minha caneta, inclusive a pressão, o estremecimento por dentro do controle da mão, hesitação, excitação, são o que dizem estas poucas letras: estou te amando. Não que amanhã não vá continuar te amando... um ponto de vista estratégico, monitorado e pretensamente enganadíssimo perante a espera de uma vitória certa. Que se espatifará pelo chão, tão logo confrontada. Sou eu assim, perante você: um herói que custa manter suas conchas contra seu corpo geléico, de pé, sustentado pela força desse amor, que enfrenta-o da mesma altura. Ainda que. (Aqui uma pincelada à Van Gogh.) Ainda que eu falasse com as rosas, não falava com nada tão meigo quanto você.




Francisco Vieira
10/04/11


Imagem disponível em http://tinyurl.com/3kccfco em 10/04/11