quarta-feira, 30 de março de 2011

Algodões de Mármore






Ao Rafael Valim




Eu vivo livre pela vida até achar alguém que me cative.
Tomara que não tente me segurar, para que eu volte outras vezes...

(Tomara que eu rompa as fronteiras da loucura, num espirro de luz açucarada,
fazer fios na paisagem além que agora eu alcanço,
e retornar para o centro mais profundo de mim,
agora um pouco mais expandido, aveludado,
onde eu posso gozar de mais conforto e segurança.
E doçura.)




Francisco Vieira
30/03/11



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domingo, 27 de março de 2011

Encruzilhada (Peça para piano)



Aos meus amigos da Bioenergética



Eu quero a alma das rosas para me encantar,

aquelas que suspiram em plenitude,

depois de enfeitar, desafiando a luz, a dar-lhe cor,

depois de surgir do caule verde, espinhoso,

numa manhã em que o sol se espreguiçasse rosa,

e as gotas epifitamente penduradas nos gomos

do cálice se rompendo, na força da cor, que emergia na luz,

toda ela se escapando, feita de carne, em pétalas.



Francisco Vieira

27/03/11

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Umidade







Aguardamos o seu contato.
Na caverna mais escura, na mata tépida,
sob uma chuva finíssima, oleosa,
com os dedos cravados no deszelo:
a apavorante figura que cresce na parede
é a minha sombra rusticamente projetada,
bruxuleando no fundo do côncavo na rocha.
E eu descobri.

Diante de tal verdade impressa na minha carne,
que mais posso fazer aqui, só por diversão?
Por baixo do poço há de a água fluir, surgindo
das entranhas cheias da terra que transborda,
não se contem e extravasa, mililitricamente ocupando a superfície.

Francisco Vieira
03/03/11


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quarta-feira, 2 de março de 2011

Adeus





Adeus

A
Daniel Bezerra Gomes



Eu sentado sobre a pedra no caminho que nos surgiu,
durante a nossa caminhada, para que me amparasse,
do tapa de te ouvir dizer a própria boca o “Fica!”
porque não me queres mais, peso que me tornei a ti.

São lágrimas com areia de rio que eu choro doidamente,
que me escorrem pelo colo erodido, assoreado,
que não se calam impulsionadas com a pressão
de um grito que não pode nem quer se calar,
mas que também não vem à tona,
nascido no fundo do ventre do ser côncavo, de vazio,
desprovido de pele, gelatina escorrendo sobre a pedra.

Mas ainda há de passar um beija-flor
e provar, levando consigo,
do doce açúcar em que me derreti.


Francisco Vieira
02/03/11


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