terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ensaio Primeiro




Eu não tenho nada,
e nada me pertence.
Meu corpo próprio
é constituído inteiramente
por uma comunidade de outros seres vivos
onde eu, alma,
vim morar a seu generoso convite.

Nós convivemos docemente,
desde que eu não fira esse equilíbrio,
desde que eu não interfina nesse ritmo próprio.
Senão ele me expulsa.
Fará, sim, quando houver inclusive
qualquer cansaço de alguma das partes.
Eu mesma poderei desertar.
Retornará a sua totalidade em brilhos moleculares,
fazendo parte de algo que nunca foi,
porque não precisava ser:
O Amor.

De sua parte, nada disso é arrogante,
visto que não possui atributo nenhum inteligente,
no corpo, para compreender as complexidades
que serão tecidas formando o universo acima - a alma.
O corpo, sempre fiel, defende-se
com sua própria força,
ora para fora de si,
ora para dentro,
na plurinecessidade de equilibrar.
Sem sucesso.
Essa força pode matar:
O Ódio.




Francisco Vieira
28/02/2012.


Imagem disponível em 28/02/2012 em http://ow.ly/9lP5F

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Vagem











Houve um tempo em que eu tinha medo,
quando a noite profunda e escura,
alta demais,
mergulhava fundo minhas entranhas
inquirindo sobre erros passados,
os quais, somente hoje,
vejo com a sua aproximação tátil,
 requerendo explicações.

Eu lembro que eu me encolhia mais,
e com isso mais a noite me possuía.

E durante o dia eu me abria tanto ao sol,
que ele me esquentava a mais tola intimidade.

E foi por me abrir assim,
que eu me explodi,
meus diafrágmas,
e pairo seca flor,
arrebentada pelas sementes que a devoraram.




Francisco Vieira
20/02/2012


Imagem disponível em http://ow.ly/9bteO em 20/02/2012