quinta-feira, 9 de junho de 2011

Luz e Treva










“Ela é de Capricórnio, eu sou de Libra
eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
a mim me enerva o ardor com que ela vibra”

Vinícius de Moraes




Ficas aí agora, onde te vejo assim,
em contorno e cor e luz, e surpresa,
agora que te olho nos olhos.
Nunca passou-te pela cabeça que tens
pudesse eu um dia enxergar-te?
Esse ser fétido e cheio de feridas,
de boca medonha, onde nunca houvesse
outra expressão senão o deboche?
Enquanto tu estás assim tão visível,
eu estou aqui no mais prazer:
sentir o meu corpo é sentir dor também,
porém eu acredito mais na próxima alegria.

- Nauseabundo!

Eu?
Apenas pelo motivo intrínseco
de que estou no meu pleno habitat,
com a minha própria excitação,
aquela que invejas no mais profundo horror,
porque não dá conta da sua e de
nenhuma outra

- Vilipendioso!

Cala teu sorriso, ele é hostil!
Não vou comunicar-me no teu linguajar:
tu não comandas minhas maneiras de agir,
estás a um canto, em mim, separado,
e que enquanto ficar aí parado, serás
humilhado, desprezado, odiado,
a ti somente,
porque eu estarei simplesmente feliz.

- Meliante!

É que tu te alimentavas da minha felicidade,
exatamente no ponto onde ela surgia pura
e cristalina,
porque foras plantado tão cedo, parasita,
no mais profundo pelo do animal,
onde te insurgiste nas minhas construções,
nas minhas bases, donde extraías minhas alegrias,
mas onde não estás mais, percebe:
não, ainda não me livrei de ti, cala-te outro,
tenho essa certeza, querido demônio,
porque és pior que o Diabo que logo faz e diz,
e vocês se nascem na nossa construção, cupins,
mas agora te proporciono o devido expurgo:
fica aí!

E fenecerás!
Posto que quase nunca vou te proporcionar a visão
de nenhuma dor, posto que não mais estás em mim,
tu morrerás de fome, inseto,
eu não mais sofrerei pelo motivo agora pouco
de ser feliz e tranquilo.
Tu te alimentavas daquela minha
diarréia emotiva.





Francisco José
09/06/2011


Imagem disponível em http://tinyurl.com/3faroxf em 09/06/2011