segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Insubstancialidade





“Até não haver porta para cair.”
A Daniel Bezerra Gomes



Eu estive olhando as portas assim, absorto, durante dias,
os quais eu não ouso contar, na inecessidade dos mesmos,
e elas se revelaram muito tempo depois, porque desistiram
de se esconder nas suas atitudes fechadas.

Uma ou outra se abriu, deixou passar gente,
abriram-se e fecharam-se, outras jamais se abriram,
outras ficaram extremamente abertas expondo um interior
pouco inexplorado.

Enfim quando as portas se comportam assim, tão livremente,
na nossa frente descuidadamente, é que se pode rir,
tão ruidosamente, enquanto se destranca a própria maçaneta,
e se abre finalmente a esse ambiente entregue espontâneo.


Francisco Vieira
17/01/11

Pele Elástica





“... te avisei que a cidade é um vão ...”
A Daniel Bezerra Gomes



A dinastia se me faz intumescer e assim me faz no fim uma
membrana fina onde eu me estico sobre mim todo num caracol
cada vez mais fino ao te ver passar, coisa que não vês,
absorta nas tuas plumas e ascendências, me escrutar, assim atávica,
pelos caminhos os quais busco por te ver andar por aí.

É só por causa que a tua beleza é tanta, insuportável,
que eu me deito aos teus passares, aos teus pisares,
é porque eu me posto fino, ampliado meu espaço de superfície,
onde calcas o salto descuidado, que me deixa impresso na gelatina,
versos de um poema que não cantas jamais...


Francisco Vieira
17/01/11

Corpo de baile








Acendei as velas, espalhai as pétalas, colori o mundo,
sofisticadas essências, cores cambiantes, metais, cetins, assovios,
sedas onde os amantes conectarão, plugarão suas almas famintas de si.

Tanta lauta refeição onde quanto mais se come mais se esvazia.

(Ser amante ao ponto de, na hora da despedida,
a mesma força e energia do abraço da chegada!)

Plantar a esmo, daqui para ali, desconhecendo a divindade,
existente na simplicidade do ato de semear,
porque se reconhece divino sem se saber ser,
sem considerar isso, sem pensar, sem imaginar isso,
na paz do não saber depois de tudo saber.

Semeias minha alma como quem assim faz, descuidosamente,
suas sementes enraízam, que se entranham, espetando-me unhas finas
fazendo florescer e colorir-se a minha alma, a qual arastes,
com o carinho incessante na lembrança dos teus dedos
que deslizavam, ora ficavam, demoravam-se, pelo meu corpo.



Francisco Vieira
17/01/11