sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Poeta no Monte Sinai







Eu tenho nenhuma frase minha com um único e pobre significado
que lhe atribuir se possa,
na laje de um sentimento que se embasa na barriga,
extrapolando os limites que o ventre possa colocar
contra esta respiração forte que o expande:
num espirro em que o sujeito se dá a luz às entranhas,
que lhe engole de volta, num ciclo que lhe era antes de ser:
sorver profundamente a atemporalidade
daquele exterior que não me pertence,
numa força que veio lá de dentro do próprio ventre.

Por isso eu falo com tanta propriedade!
Meus cálculos se insinergem por aí, se arrumando, acomodando,
até que se acalmem e se as ondas se vão
deixando plácido o lago, límpida a face,
congelando o fio do aço que vai moer, finamente,
a ideia transmitida pelas palavras ditas no papel.

Enquanto o machado se prepara para o golpe final,
o toque da pluma atraída pela eletricidade negativa da pele,
derruba o ataque, reconstrói a atitude.



Francisco Vieira
06/05/11


Imagem disponível em http://tinyurl.com/6btd2l8 em 06/05/11