quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ópera








Dó, Ré, Mi e Fá estavam ocupadas em seus crochês quando a tarde chegou,
palma transitória de um rosto cansado de tanta luz.
Trabalhavam os nós nas cores universais de todos os universos
e soavam brancos, caindo leves plumas sobre os ouvidos humanos:
uma orquestra, cujo equilíbrio também é considerado, dentro do ritmo.

Os passos de cada nó, assim decodificados, interpretados,
podem ser vistos nos indivíduos pela vida:
lufadas de ritmos diferentes, felizes, a se passear por aí!

O ritmo do crochê, faz três nós dentro de um só,
ia enchendo as cestas de casacos, mantas, meias, luvas,
porque se preparassem para um inverno doloroso,
onde não poder-se-ia escutar uma única música.

E porque assim juntas e tão irmãs, em tons distintos,
porque assim então se amarem tanta e tão imensamente,
porque estivesse no ar farto prazer e alegria ,
elas poderiam descansar assim tão docemente entregues,
no regalo do colo daqueles que nos amam,
nos vêem, e nos aceitam tais quais somos...


Francisco Vieira
20/01/11