sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Jardim dos Sábios Bebês (Elas)




Olódùmarè abaixa e sussurra:

- Òsun, desmembra os quatro estágios do amor:
‘Primeiro se amam com o corpo, o do outro,
e aqueles que são gerados...
depois se ama com esse amor agora contido no peito,
para então amar assim, expandindo desse tronco, desse corpo.’

- Yemoja, desmembra os quatro estágios do mar:
‘A praia me chega, toda dada, toda minha, me convidando,
para entrar no mar, eu mergulho, e, num ímpeto de ar
meus pulmões ardem e as vias aéreas, e eu vou mais fundo,
até eu receber essa toda pressão, meus olhos saltarem,
porque nada mais preciso ver, e então repousar, no leito do mar,
que é onde, por direito, habitam as Deusas...’

_Yánsàn, desmembra a morte:
‘O único amor que não pode ser negado ao ser, porque vital,
é aquele que se tem da mãe nos primeiros meses de colo,
que se desenvolve durante toda a vida, e na plenitude, ao explodir,
morre então, definitivamente, quietamente.
Assim devem morrer aqueles que se tornarão Orixás!’

- Nàná, desmembra a paz:
‘Depois de um tempo no leito do mar,
ou mesmo dos rios, das lagoas, depois de um tempo
no lugar onde se encontram a água e a areia,
que se respeitam, afundar-se, lentamente,
atendendo a um chamado amplificado no peito,
aterrando-se cada vez mais naquele silêncio,
que envolve com o mesmo peso e a mesma sustentabilidade.’


Francisco Vieira
14/01/11

O Jardim dos Sábios Bebês (Eles)







Olódùmarè abaixa e sussurra:

- Òsányìn, desmembra os quatro estágios do êxtase:
‘O sentimento que eu estou tendo agora é
o de quem anda passos na beira do abismo,
sente a vertigem da fundura,
sem o medo de cair,
e sem o menor desequilíbrio.’

- Ògún, desmembra os quatro estágios da guerra:
‘A contenda entre eles se dará porque fracassaram dialogando,
porque fracassaram de novo a cada morto que tombava,
fracassava novamente, quando desunia os olhares entre irmãos,
e finalmente fracassou mortalmente,
porque nada se resolveu.’

_Èsù, desmembra a transitoriedade:
‘A fração de segundos em que você está aqui é tal,
que por décimos de segundos a menos, poderia ser diferente,
que por tempos muito antes poderia ser muito difícil,
e ainda que, por mais no passado tais segundos estivessem,
tão quão difícil seria equilibrar a essência e o corpo.’

- Òsàlúfón, desmembra evolução:
'A porta que não merece estar de pé, deve cair.
A porta que merece estar de pé, deve cair.
A porta barroca que merece, é linda, deve cair.
Até não haver porta para cair.'


Francisco Vieira
14/01/11