quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sombra











Seja bem-vindo você que não me vê,
que esconde meu rosto por trás às sombras,
aos arvoredos noturnos enegrecidos pela noite,
mas que buscam a claridade se enraizando
fora de terra, dessa vez:
por entre a claridade dócil da lua cheia.

Você, que me vislumbra nos becos, nas dobras,
com os olhos súplices, desesperado,
quando por ventura algum relâmpago vem me nascer.

É que quando nos sonhos profundos, quando então
temos a chance de nos relacionarmos mais de perto,
quando enfim você vem a meu encontro
e vomita o alimento azedo que me sustenta,
é que eu tenho a oportunidade de dizer-lhe
que minha maior intenção sempre foi parecer com você,
e que minha maior decepção foi você ter se tornado
a pessoa que mais se parece comigo.

Enojado, mal posso disfarçar minha repugnância...
e busco junto ao calor dos fogos-fátuos meu abrigo,
o descanso para a minha cabeça que nunca se consome em fogo.

E essa ilusão de me esconder,
é um véu sobre a verdade,
sob onde quem se esconde sou eu.



Francisco Vieira
07/07/2011

Imagem disponível em http://tinyurl.com/6eus7az em 07/07/2011