quinta-feira, 7 de julho de 2011

Balé Sensorial







Aprendi uma saudade,
que vem num impulso de onda,
e retorna toda salpicada de espuma,
para então recomeçar um novo ciclo...

assim como a tristeza sonolenta do fim de tarde
queda muda no silêncio da noite,
é uma saudade que dorme na certeza
de que outra aurora trarás quando retornares...

longe daquela saudade aterradora
que não conhece companhia,
e que se fixa na ilusão
de que, junto com o outro, ela desaparece!

Mas não a tua presença!

Pois que quando comigo, juntos,
esclarecendo desejos e elogios,
falando baixo, no lábio do outro,
funde-se em meu coração uma energia

cálida, quase como um magma
preenchendo uma fenda na rocha fria,
a tua presença que percebo por todos
os sentidos, me superpreenchendo...

uma saudade que eu gosto de sentir,
porque é supérflua, é desnecessária,
porque me faz pensar em ti,
e porque gosto de pensar em ti.



Francisco Vieira
08/07/2011

Imagem disponível em http://tinyurl.com/3kaeoaw em 08/07/2011

Diário de bordo






Pleno



Não há nada que eu escute mais
do que o que é dito diretamente aos meus olhos,
olhados pelos olhos teus.

Quando o som que ouço
ao murmurares “eu te amo!”
de maneira tão simples e aberta,
é um objeto ínfimo
na disposição dos móveis e complementos
da sinceridade e da honestidade
desse olhar.

Na verdade é essa a casa onde eu moro,
aquela que vislumbro a partir do que vês de mim.

Não há dependência nossa, ambas,
da existência dessa casa morna, acolchoada,
mas assim que chegamos lá, ela, se materializam,
mutuamente, e assim nos deixamos ficar
simplesmente conversando,
pelo olhar, lendo os lábios, o som desligado.

Esta é uma ilha
que conquistamos além do frêmito
e do choque do encontro, por onde nadamos,
braçadas e respiração profundas,
nossos corpos se esforçando e se empurrando contra o outro.

Um momento de descanso
dentro de um momento de prazer.

Uma fatia de felicidade.




Francisco Vieira
07/07/2011

Imagem disponível em http://tinyurl.com/6ga3gzc em 07/07/2011