terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Constelación





Agora descobri porque me pedes e ordenas
mostrar-te a minha crueldade!
Porque me chegas nesse olhar averiguador,
perceptivo, sagaz, cujo mínimo rictus de um pequeno
sentimento de raiva não expressada não lhe passasse,
e jogas as sementes da dúvida, do desconforto,
do desprezo, da malevolência, do desrespeito.
Agora sei porque adornas os atos mais ignóbeis
com os enfeites da bondade, da generosidade,
da amabilidade, da quase servidão.

Porque seria essa a única maneira de arrancar do meu coração
o sentimento de bem estar que me toma de forma
tão morna, tão tranqüilizadora!
Porque seria a única maneira de eu te legitimar
que nada do que aconteceu valesse a pena.
Desse jeito, teu peito rasgado, mutilado,
pudesse se curar mais rápido de um engano,
do que de uma perda irrecuperável...


Francisco Vieira
04/01/11

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