domingo, 9 de janeiro de 2011

A Roupa Nova do Rei




Quero me despir de tanta carne que me sou,
chegar depois da pele, onde já não sinto frio nem calor,
onde posso assistir os impulsos dos movimentos que não fiz,
contidos e segurados dentro da minha carne.
Eu quero descobrir minhas vísceras, expô-las,
quero olhá-las simplesmente a brilhar na luz,
eu que até ainda apenas e tão somente pudera senti-las
e com a mão tateá-las, apertando, para então descobrir
onde é que ficavam exatamente aquelas dores.
Arranco-as porque não quero mais dor,
arremesso-as de mim, catatônico,
no auge da mais extrema dor e da mais calada paz.
Arranco as carnes também, arranco os olhos,
e assim despido, cego de todo domínio que eu exercia,
de ver brilhar na chama do fascínio, em seus olhos,
o meu perfil pomposo, arrogante,
deixo que me vejam, aquela platéia, os ossos,
em toda a sua fragilidade rosada, antes de perder os sentidos,
definitivamente,
descubro que, infelizmente, esse era o lugar onde eu mais habitava
em mim.



Francisco Vieira
09/01/11

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