domingo, 6 de fevereiro de 2011

Oração a Santa Luzia







Olhar-te através de um espelho, porque não posso
encarar-te frente a frente, eu que nunca me tenho visto.
Eu não existo pelas arestas – a par, de todo o mar,
que é possível se imaginar existir pelas frestas,
e meus símbolos pessoais são inescritos.
No meu reflexo que há pouco estou aprendendo usar,
na minha personificação plástica corpóreo-consciente,
eu ainda não me acostumei comigo, desde que me foi dado
ser olhado longamente.
Por que olhas, em fim, para mim, que a muito custo posso suportar
tanta benevolência, tanta certidão de mim mesmo
como ser bom, digno desse teu olhar intercursado,
cheio de afeto primitivo, de acolhimento, de paixão!

O vício é o eterno reflexo daquilo que nunca foi visto.



Francisco Vieira
06/02/11




Imagem disponível em http://tinyurl.com/48xcw3d

3 comentários:

abelheira disse...

Invariavelmente incrível.

Ana SSK disse...

Buscamos o risco do giz, quando pensamos que buscamos o giz.

Alicia disse...

Amém!