quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Vida





Eu,
que já me senti superior a ti,
que já experimentei a loucura absurda da possibilidade remota de ter te vencido...

que fui cansando e vendo com cada vez mais clareza onde estou:
aqui no chão
de barriga exposta as tuas mandíbulas poderosas,
as patas enormes me prendendo braços e pernas,
enquanto vou calando meu último grito,
no aterrorizante olhar impassível com que me fitas
- eu peço somente isso, numa última tentativa de negociar nossa dívida:
Não tenhas pena de mim!




Francisco Vieira
07/09/10

4 comentários:

Anderson Tomio disse...

superioridade...essa é uma palavra que não faz muito sentido nas boas relçaoes humanas. O melhor de tudo...sermos iguais...olhar do esmo patamar.
Quando ha diferenças um sempre se torna refem.

Unknown disse...

UrsoRight sempre fala que pena é o pior sentimento que uma pessoa pode ter pela outra. Pena nos rebaixa a arrogancia.
Muito bom poet, vc sente q vc esta evoluindo, assim como nós sentimos aqui? Mais clareza e profundidade.

I. D'Avila disse...

As janelas foram abertas. A luz pintou texturas, tingiu os cabelos, cintilou as unhas. E de tanta forma-cor, originou-se gostos, um banquete de tons pasteis, tintas agridoces, esculturas quentes, colagens frias e açucaradas em paredes mornas.
Uma decoração de raios de sol. Acolhedor vindo de toda a casa, o cheiro de bolinhos de chuva, o suco de maçã e o café. A tempestade foi devorada com açucar e canela.

Visitar este teu novo espaço é como me sentar a mesa com alegria, com vc para o lanche da tarde - uma delicia!

Anônimo disse...

Gostei do poema... Vejo nele uma aparente transformação do pedante, do que se acha superior, do algoz em vítima, mas ainda no chão, vencido, acabado, fisicamente vencido, em seu último grito - ele não se rende no campo das ideias, no patamar da alma, seu orgulho é impiedoso consigo mesmo: Não tenhas pena de mim!
Certo, dizem que o pior sentimento que se pode ter dos vencidos é pena, será esse um lugar comum aos impiedosos ou esta é uma regra do inconsciente coletivo (se assim posso dizer)... Ótimo poema...

André